sexta-feira, 8 de abril de 2011

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE ESCOLA, VIOLÊNCIA E TECNOLOGIA

Hoje será um dia difícil para todo o país com a despedida das crianças brutalmente assassinadas em Realengo-RJ. Muito se falará sobre o caso nos próximos dias com posicionamentos convergindo para a discussão sobre a proibição de armas de fogo, sobre as políticas de atendimento a portadores de doenças mentais e pela discussão da segurança na porta de escolas. Entendo que estas discussões podem e devem ser realizadas e certamente contribuirão para a apresentação de propostas e soluções, mas gostaria de contribuir com outros componentes que devem e precisam ser considerados, sob o risco de formularmos soluções incompletas.

Quando nossa sociedade passa a utilizar as tecnologias disponíveis da informação e comunicação para promover o desenvolvimento e a disseminação de jogos para computador e videogames com um conteúdo em que a violência é o principal ingrediente, não é possível ignorar os efeitos que estes exercerão em uma mente perturbada. Por considerarmos que nossos filhos são equilibrados e bem orientados, acreditamos que os efeitos negativos destes jogos não irão afetar seu comportamento. Esta visão atrofiada nos faz esquecer que ao incentivarmos a disseminação destes jogos, mais indivíduos terão acesso a estes, mais pirataria ocorrerá e a expansão do acesso será exponencial. Em muitos o efeito será nulo, em outros serão a válvula de escape para seus instintos violentos anulando-os, para poucos uma fonte de idéias e inspiração. Nos primórdios da internet a participação individual na disseminação destes jogos era mais importante, mas hoje, esta importância é pequena em decorrência da universalização do acesso. Some-se a isso a capacidade dos atuais jogos de disputas em rede, que acaba promovendo a disputa entre jogadores, ingrediente certo também para a formação de ódios.

Estes efeitos já eram previstos e temidos. Quando a sociedade universaliza o acesso a novas formas de distribuição do conhecimento, junto com o desenvolvimento vem o mau uso deste conhecimento. Isto não é fato novo, o que mudou foi a velocidade com que a disseminação ocorre em função do suporte das novas tecnologias. Novidade é a liberdade total da internet com relação ao conteúdo produzido e postado e as tecnologias que disponibilizam estas informações em qualquer lugar, a qualquer tempo.

Proibir armas de fogo não elimina a possibilidade do uso de armas brancas ou de dispositivos explosivos fabricados a partir de fertilizantes (a receita está na internet). Internar indivíduos com distúrbios mentais não impedirá que os não diagnosticados um dia cometam crimes iguais. Da mesma forma não solucionará o problema regular o acesso ou o conteúdo da internet.

Nos lamentáveis fatos de ontem o que podemos identificar é um conjunto de fatores que contribuíram para a construção da tragédia, como : dramas pessoais, abandono, bullying , histórico de problemas emocionais e mentais, entre outros, que podem e devem ser identificados na escola, que é o lugar de construção do indivíduo quando o lar falta. É na estruturação e funcionamento adequado da escola que podemos reduzir ocorrências como estas, identificando problemas, cuidando das crianças e dos jovens, fazendo a diferença na vida de cada um, ou seja, educando ao invés de conceder notas e diplomas.

A proposta é que cuidemos sim da questão das armas, mas que esteja claro que elas são apenas instrumentos e instrumentos podem ser substituídos. Precisamos cuidar é das pessoas, que fazem de instrumentos armas, e transformam visões deturpadas em justificativas para atos contra a vida.


“Eduque às crianças e não será necessário castigar aos homens” (Pitágoras de Samos, 580 a.C. - 497 a.C.), tanto tempo e ainda não aprendemos a lição.

2 comentários:

  1. muito bom esse artigo .
    concordo plenamente com o prf.Dercio luiz .
    parabens pelo artigo .!

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  2. é muito bom sbr que em nossa faculdade temos um profissional á altura .faço s.i primeiro periodo no la salle . fiquei muito orgulhoso do Sr. prof. Dercio parabens .!!!

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